sábado, 14 de novembro de 2009


Se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...


Alice Ruiz

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


"FAZER UM CÉU"

Fazer um céu, com pouco a gente faz basta uma estrela uma estrela e nada mais.

Pra ter nas mãos o mundo basta uma ilusão um grão de areia é o mundo em nossa mão. Sonhar é dar à vida nova cor

dar gosto bom às lagrimas de dor

o sol pode apagar, o mar perder a voz

mas nunca morre um sonho bom dentro de nós.

-MÁRIO LAGO- (Rio de Janeiro-1911-2001)

terça-feira, 20 de outubro de 2009


Borboletas são livres


Borboletas são livres

Minha alma também.

Anseio liberdade, beleza e amor

De ir, vir e sentir

Paixão, ar, calor.


Preciso criar, voar...

Sentir o vento nos cabelos

Mas os pés no chão.

Quero abraço

Mas quero espaço.


Mulher borboleta

Pequenina e voraz

Tem um vôo que seduz

Uma beleza que satisfaz.


Possuidora de uma leveza que conduz

De uma força que induz.

Sua fragilidade lhe traduz

Uma mulher que reluz!


Precisa de arte

Precisa que invada.

Que o coração dispare

Que a saudade mate.


Não a prenda

Traga flores para que venha.

Ela não é para qualquer um

Ela é da natureza

Ela é dela.


Tranque-a e ela morre.

Sopre-a no vento...Que ela vai.

Mas espere

Pois ela volta.


(Carolina Salcides)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


Dever de Sonhar

Eu tenho uma espécie de dever,dever de sonhar,de sonhar sempre,pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.

E, assim, me construo a ouro e sedas,em salas supostas, invento palco,cenário para viver o meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações, pois boas lembraças, são marcantes, e o que é marcante nunca se esquece!

Uma grande amizade mesmo com o passar do tempo é cultivada assim!


“Ensina seus filhos a respeitar a Terra onde pisam, pois ela está plena das cinzas de nossos Ancestrais”.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


Quando nada subsiste de um passado antigo,

depois da morte dos seres,

depois da destruição das coisas,

sozinhos, mais frágeis porém mais vivazes,

mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis,

o aroma e o sabor permanecem ainda por muito tempo,

como almas, chamando-se, ouvindo, sobre as ruínas de tudo o mais,

levando sem se submeterem, sobre suas gotículas quase impalpáveis,

o imenso e difícil das recordações

= Marcel Proust =
O Culpado
Eu me declaro culpado de não ter feito, com estas mãos que me deram,uma vassoura.
Por que não fiz uma vassoura?
Por que me deram mãos?
Para que me serviram se só vi o rumor do cereal,
se só tive ouvidos para o vento
e não recolhi o fio da vassoura,
verde ainda na terra e não pus para secar os talos ternos
e não os pude unir num feixe áureo
e não juntei um caniço de madeira à saia amarela até dar uma vassoura aos caminhos?
Assim foi!
Não sei como me passou a vida
sem aprender, sem ver,sem recolher e unir os elementos.
Nesta hora não nego que tive tempo,
mas não tive mãos,
e assim, como podia aspirar com razão à grandeza
se nunca fui capaz de fazer uma vassoura
uma só,
uma?
= Pablo Neruda=

terça-feira, 29 de setembro de 2009


Foto de Frida Kahlo

Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.

Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...


Cecília Meireles

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


"Enfeite-se com margaridas e ternurase escove a alma com flores,com leves fricções de esperança.De alma escovada e coração acelerado,saia do quintal de si mesmoe descubra o próprio jardim..."

-Carlos Drummond de Andrade-

Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida,pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada, que seja a minha noite uma alvorada,que me saiba perder...para me encontrar....

-Florbela Espanca-

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


O Olho é uma espécie de globo,é um pequeno planeta com pinturas do lado de fora.

Muitas pinturas:azuis, verdes, amarelas.É um globo brilhante:parece cristal,é como um aquário com plantas finamente desenhadas: algas, sargaços,miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,que não se vêem:umas são imagens do mundo,outras são inventadas.

O Olho é um teatro por dentro.

E às vezes, sejam atores, sejam cenas,e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,formam, no Olho, lágrimas.


= Cecília Meireles =

...Que minha solidão me sirva de companhia.

Que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.


Clarice Lispector

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

e que nele posso navegar sem rumo,

não respondas às urgentes perguntas que te fiz.

Deixa-me ser feliz assim, já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.

Só soubemos sofrer enquanto o nosso amor durou.

Mas o tempo passou, há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.

Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada...


Miguel Torga

terça-feira, 18 de agosto de 2009


A alegria é um pássaro

que só vem quando quer.

Ela é livre.

O máximo que podemos fazer

é quebrar todas as gaiolas

e cantar uma cançãode amor,

na esperança de que ela nos ouça...


(Rubem Alves)

Canção Amiga


"Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça.
Todas as mães se reconheçam, e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas formam um só diamante.
Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção que faça acordar os homens
e adormecer as crianças."

(Drummond).

quinta-feira, 13 de agosto de 2009


“Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico:


“Saudade é o revés do parto,

É arrumar o quarto para o filho que já morreu.


”Qual é a mãe que mais ama?

A que arruma o quarto para o filho que vai voltar,

Ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar?

Sou um construtor de altares.

Construo altares à beira de um abismo

Escuro e silencioso.

Eu os construo com poesia e música.

Os fogos que neles acendo

Iluminam o meu rosto

E me aquecem.

Mas o abismo permanece

Escuro e silencioso.


Rubem Alves

terça-feira, 11 de agosto de 2009


Explicação


O pensamento é triste;

o amor, insuficiente;

e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.

Deixo que a terra me sustente:

guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.

A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.

A estrela sobe, a estrela desce...

- espero a minha própria vinda.

(Navego pela memória sem margens.

Alguém conta a minha história

E alguém mata os personagens.)


Cecília Meireles

terça-feira, 4 de agosto de 2009


Despedida


Adeus,

que é tempo de marear!


Por que procuram pelos olhos meus

rastros de choro,direções de olhar?


Quem fala em praias de cristal e de ouro,

abrindo estrelas nos aléns do mar?

Quem pensa num desembarcadouro?

- É hora, apenas, de marear.


Quem chama o sol?

Mas quem procura o vento?

e âncora? e bússola? e rumo e lugar?

Quem levanta do esquecimento

esses fantasmas de perguntar?


Lenço de adeuses já perdi...Por onde?

- na terra, andando, e só de tanto andar...

Não faz mal. Que ninguém responde

a um lenço movido no ar...


Perdi meu lenço e meu passaporte

- senhas inúteis de ir e chegar.

Quem lembra a fala da ausência

num mundo sem correspondência?


Viajante da sorte na barca da sorte,

sem vida nem morte...


Adeus,

que é tempo de marear!


Cecília Meireles

Anfiguri


Aquilo que eu ous0

Não é o que quero

Eu quero o repouso

Do que não espero


Não quero o que tenho

Pelo que custou

Não sei de onde venho

Sei para onde vou


Homem, sou a fera

Poeta, sou um louco

Amante, sou pai


Vida, quem me dera

Amor, dura pouco

Poesia, ai!...


Vinicius de Moraes

domingo, 12 de julho de 2009


Via você na janela na distância,

na solidão na penumbra do amanhecer.

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.

Via você no ontem , no hoje, no amanhã...

Mas não via você no momento.

Que saudade...(Mário Quintana )

quinta-feira, 9 de julho de 2009


Inscrição para uma Lareira


A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?

Em meio aos toros que desabam,cantemos a canção das chamas!


Cantemos a canção da vida,na própria luz consumida..

.¬ Mário Quintana ¬

sexta-feira, 26 de junho de 2009


"Me ajuda que eu tenho certeza absoluta que já fui Pessoa ou Virgínia Woolf em outras vidas

e filósofo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas.

Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flôr,

que eu quero encontrar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta

para sair de mim e respirar aliviado e por um instante não ser mais eu, que hoje não me suporto

nem me perdôo de ser como sou sem solução".


Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 25 de junho de 2009


Abracem-me

Isso! Abracem-me...

Podem todas me abraçar brandamente

enlacem meu corpo a se doar


Porque o abraçar é tudo

que há de encantador

num momento longo,

mudo na energia do amor...


Isso! Abracem-me...

ondas mornas do mar

ah se vocês falassem

porque vem me abraçar...


O.Heinze

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Penso e passo

                                                       Aka Lousie

Quando penso que uma palavra
pode mudar tudo
não fico mudo
mudo

Quando penso que um passo
descobre o mundo
não paro o passo
passo

E assim que passo e mudo
um novo mundo nasce
na palavra que penso.

-Alzira Espíndola e Alice Ruiz-

terça-feira, 2 de junho de 2009


Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê.

Quem sente não é quem é.

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo,

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li,

O que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu ?"

Deus sabe, porque o escreveu.


(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 28 de maio de 2009


"Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas a águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga?"

Leonardo Boff

quarta-feira, 27 de maio de 2009


"Pode ser que um dia deixemos de nos falar... Mas, enquanto houver amizade, Faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe... Mas, se a amizade permanecer, Um de outro se há-de lembrar. Pode ser que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, A amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos... Mas, se ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."

Albert Einstein

sexta-feira, 22 de maio de 2009


A menina selvagem veio da aurora acompanhada de pássaros,estrelas-marinhas e seixos.

Traz uma tinta de magnólia escorridanas faces.

Seus cabelos, molhados de orvalho e tocados de musgo,cascateiam brincando com o vento.

A menina selvagem carrega punhados de renda ,sacode soltas espumas.

Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.

E há de relance, no seu riso,gume de aço e polpa de amora.

Reis Magos, é tempo!

Oferecei bosques, várzeas e campos à menina selvagem: ela veio atrás das libélulas.

Henriqueta Lisboa - Publicado (1958)


Henriqueta Lisboa. Pouco conhecida do público, essa mineira, nascida em Lambari em 15 de julho de 1904, recebeu vários prêmios literários, entre os quais a Medalha da Inconfidência de Minas Gerais (com o livro “Madrinha Lua”, em 1952) e o Prêmio Brasília de Literatura,em 1971.

sexta-feira, 15 de maio de 2009


Aka Lousie

"As vezes vivemos como se fossemos galinhas , porém, somos águias. Por isso, todos podemos voar, se quisermos. Talvez não seja um processo rápido, mas insista, não desista , tente novamente! Busque ajuda se preciso. Voe cada vez mais alto, não se contente com os grãos que lhe jogam para ciscar.!"

Leonardo Boff

segunda-feira, 11 de maio de 2009


Todo azul do mar
Composição: Flávio Venturini / Ronaldo Bastos


Foi assim

Como ver o mar

A primeira vez

Que meus olhos

Se viram no seu olhar

Não tive a intenção

De me apaixonar

Mera distração e já era

Momento de se gostar

Quando eu dei por mim

Nem tentei fugir

Do visgo que me prendeu

Dentro do seu olhar

Quando eu mergulhei

No azul do mar

Sabia que era amor

E vinha pra ficar

Daria pra pintar

Todo azul do céu

Dava pra encher o universo

Da vida que eu quis pra mim

Tudo que eu fiz

Foi me confessar

Escravo do seu amor

Livre pra amar

Quando eu mergulhei

Fundo nesse olhar

Fui dona do mar azul

De todo azul do mar

Foi assim como ver o mar

Foi a primeira vez que eu vi o mar

Daria pra beber todo azul do mar

Foi quando mergulhei no azul do mar

Onda que vem azul, todo azul do mar

Foi assim, todo azul do mar.


domingo, 10 de maio de 2009


Que mulher é essa?


Que mulher é essa que não se cansa nunca ?

que não reclama de nada, que disfarça a dor?

Que mulher é essa que contribui com tudo,

que distribui afeto,tira espinhos do amor?

Que mulher é essa de palavras leves,coração aberto,pronta a perdoar?

Que mulher é essa que sai do palco ao terminar a peça sem chorar?

Essa mulher existe,

sua doçura resiste às dores da ingratidão,

resiste à saudade imensa,

resiste ao trabalho forçado,

resiste aos caminhos do não!

Essa mulher é MÃE,

linda, como todas são.


Ivone Boechat

sábado, 9 de maio de 2009


"Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos,saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. "

Érico Veríssimo

sexta-feira, 8 de maio de 2009


Autopsicografia


O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.


Fernando Pessoa

Sim, sei bem

Sim, sei bem

Que nunca serei alguém.

Sei de sobra

Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,

Que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,

Enquanto dura esta hora,

Este luar, estes ramos,

Esta paz em que estamos,

Deixem-me me crer

O que nunca poderei ser.


Fernando Pessoa

Michael Cheval

LIBERDADE


Ai que prazer não cumprir um dever.

Ter um livro para ler e não o fazer!

Ler é maçada,estudar é nada.

O sol doira sem literatura.

O rio corre bem ou mal,sem edição original.

E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta.

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças,

Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

quinta-feira, 7 de maio de 2009


Frida Kahlo

Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver a noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem;da moret, apenas

Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes

terça-feira, 5 de maio de 2009


"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um; porém se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas"

(Provérbio Chinês).

segunda-feira, 27 de abril de 2009


Renoir

Para mim, um quadro deve ser algo amável, alegre e belo, sim, belo.

Já existem muitas coisas desagradáveis na vida.

Para que inventarmos mais?


Pierre-Auguste Renoir

Obra:Vladimir Kush


És livre na luz do Sol e livre ante a estrela da noite.

E és livre quando não há sol,nem lua ou estrelas.

Inclusive, és livre quando fechas os olhos a tudo que existe.

Porém, és escravo de quem amas pelo fato mesmo de amá-lo.

E és escravo de quem te ama, pelo fato mesmo de deixar-te amar.


Khalil Gibran

Saudade é um pouco como fome.

Só passa quando se come a presença.

Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:quer-se absorver a outra pessoa toda.

Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.


(Clarice Lispector)

domingo, 26 de abril de 2009


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta, de sol quando acorda, de flor quando ri.

Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede, dança gostoso numa tarde grande sem agenda, se sente comendo pipoca na praça, lambuzando o queixo de sorvete, melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.

O tempo é outro , a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende a ver.

Tem gente que tem luz das estrelas que Deus acendeu no céu,ao lado delas a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza, se sente visitando um lugar feito de alegria, recebendo um buquê de carinhos.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa, do brinquedo que a gente não largava, de passeio no jardim, e a gente ri grande que nem menino arteiro... costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também tem cheiro.

terça-feira, 21 de abril de 2009


Ódio produz casamentos duradouros.

O ódio não suporta a idéia de ver o outro voando livre, para longe...

O ódio segura, para que o outro não seja feliz.

O ódio gruda mais que amor.

Porque o amor deixa o outro voar...


segunda-feira, 20 de abril de 2009


Soneto do amigo


Enfim, depois de tanto erro passado

Tantas retaliações, tanto perigo

Eis que ressurge noutro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado

Com olhos que contêm o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado

E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano

Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica

Que só se vai ao ver outro nascer

E o espelho de minha alma multiplica...


Vinícius de Moraes

sábado, 18 de abril de 2009

Mandala da artista Cynthia Castejón


Mandalas são harmoniosas,constantes, abrangentes, nos remetem ao infinito, ao universo.

Elas nos acompanham há muito tempo. Desde os idos das mais antigas civilizações, em sânscrito significam círculos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009



Eu e o meu amor


Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes


Eu e o meu amor

E o meu amor ...

Que foi-se embora

Me deixando tanta dor

Tanta tristeza

No meu pobre coração

Que até jurou

Não me deixar

E foi-se embora

Para nunca mais voltar
A felicidade


Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes


Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

Para minha Marina


Eu não existo sem você

Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Qua nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você

quinta-feira, 16 de abril de 2009


AMOR DE ÍNDIO

Composição: Beto Guedes - Ronaldo Bastos


"Tudo que move é sagrado

E remove as montanhas

com todo cuidado, meu amor

Enquanto a chama arder

Todo dia te ver passar

Tudo viver a teu lado

Com o arco da promessa

Do azul pintado pra durar

Abelha fazendo mel

Vale o tempo que não voou

A estrela caiu do céu

O pedido que se pensou

O destino que se cumpriu

De sentir seu calor e ser todo

Todo dia é de viver para ser o que for e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado

E o fruto do trabalho

É mais que sagrado, meu amor

A massa que faz o pão

Vale a luz do teu suor

Lembra que o sono é sagrado

E alimenta de horizontes

O tempo acordado de viver

No inverno te proteger

No verão sair pra pescar

No outono te conhecer

Primavera poder gostar

No estio me derreter

Pra na chuva dançar e andar junto

O destino que se cumpriu

De sentir seu calor e ser tudo".

Brian Froud

Poema do livro "O Louco"

"Tem gente que me pergunta como foi que enlouqueci. Foi assim: certo dia,
muito antes dos deuses nascerem, acordei de um longo sono e descobri que
todas as minhas máscaras tinham sido roubadas -
as sete máscaras que eu tinha feito e usado em sete vidas -
e sai correndo pelas ruas apinhadas de gente, gritando:
_ Ladrões, ladrões, malditos ladrões!
Os homens e as mulheres riam, mas alguns correram pra casa com medo de mim.
E, quando cheguei à praça do mercado, um jovem que estava no terraço de uma casa gritou:
_É um louco!
Ergui os olhos p/ ele e o sol beijou meu rosto nu pela 1ª vez.
Pela 1ª vez o sol beijou meu rosto nu e minha alma inflamou-se de amor pelo sol e não quis saber mais de máscaras. E gritei em transe:
_Abençoados, abençoados ladrões que roubaram minhas máscaras!
Foi assim que enlouqueci.
E encontrei liberdade e segurança em minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aqueles que nos compreendem nos escravizam de algum modo.
Mas não quero ficar orgulhoso demais de minha segurança.
Nem na cadeia um ladrão está a salvo de outro ladrão"


Gibran Kalil Gibran

quarta-feira, 15 de abril de 2009


Colecionador de cheiros troca um cheiro de cidade, por um cheiro de neblina,

um cheiro de gasolina, por um cheiro de chuva fina,

um cheiro de cimento, por um cheiro de orvalho no vento.

(Roseana Murray)

Desenho de Brian Froud

"Da vida, guardo,o que não aconteceu.

Carrego,o que não pude ter.

Caminho por onde estou certo que desconheço.

Arrisco-me para não me arrepender depois.

Sou um aluno do avesso,aprendo quando não consigo inventar."


- Fernando Palma -