quinta-feira, 30 de setembro de 2010

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Foto: Bruna Prado


 Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. .. Exagero de escassez.... Contraditórios? ? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não
 pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
 Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância
 de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
 O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente
 sistematizada - de contradições.
 Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é
 gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está
 mais para madrasta vil.
 A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar
 na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
 E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me
 restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria
 querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo
 na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade.
 Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada
 pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha
 voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação
 gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.. Uma segue a outra... Sem nenhuma
 contradição!
 É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem
 esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças
 que transformem!
 A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão
 uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O
 povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não
 aprendeu o que é ser cidadão.
 Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa
 participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não
 modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas
 na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo
 para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
 Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra
 fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a
 pobreza e desigualdade no Brasil.
 Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não
 afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
 Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um
 posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
 Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se:
 quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser
 tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?


 Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina
 faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes
 universitários.
 Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações
 Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre
 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'

 A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro,
 com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no
 site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

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