terça-feira, 27 de julho de 2010

 
Miguel Tió



Minha educação angelical começou muito cedo. Tomei minhas primeiras lições num salão de barbeiro. Havia lá uma folhinha que a todos comovia e tranqüilizava: uma paisagem bucólica, um menino e uma menina, irmãozinhos, pés descalços, pelas trilhas da floresta, sozinhos, prestes a atravessar uma frágil pinguela sobre um abismo: tão fácil cair. Mas não havia razões para temer. Protegia-os um anjo de beleza máscula e brancas enormes asas. Com um quadro daqueles na parede os pais e as mães podiam dormir tranqüilos. Era o Anjo da Guarda que, ao que me consta, continua a guardar as criancinhas que atravessam pontes nas florestas.

Rubem Alves

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